Não encontrei a escrita de Marcelo Birmajer totalmente por acaso. Ela me foi recomendada pelo artigo de um editor que considero. Só não me recordo como esse artigo apareceu aberto na tela do meu computador.
Fui à procura de livros e encontrei em português Histórias de homens casados. O tradutor é de fato português, mas o livro foi publicado por uma editora brasileira. A parte ortográfica e gramatical é impecável. O detalhe é que o teor de erotismo literário – que dá para sentir que Marcelo Birmajer atinge com maestria – foi um pouco perdido. Das maiores diferenças entre o português lusitano e o brasileiro estão as palavras que fazem referência ao corpo, especificamente com conotação sexual. Portanto, por questões de tradução, palavras como “mamas” e “nádegas” não me permitiram sentir toda a potência que eu tenho a certeza que ele teve ao escrever.
O livro é grande. Eu queria falar de todos os contos. Cito apenas algumas partes aqui, das vezes em que lembrei de parar a leitura e fazer anotações. Em um dos contos ele chama – de forma brilhante – impudico ao telefone, “um passaporte entre nosso mundo e o de Sodoma e Gomorra”, pois se pode falar nu com a mãe ou interromper o ato sexual para atender a irmã. Já “Na noite de núpcias” me levou do riso ao choro, e esse é um dos contos com elementos mais sensuais.
A escrita de Marcelo Birmajer é tão agradável e bem elaborada que nos transmite as sensações durante a leitura. Eu senti – e eu realmente senti – repulsa quando Omar se atirou na protagonista de “O recepcionista”, como se de mim se tratasse. Senti o pavor de Ribalta ao correr pela rua enquanto era perseguido pelo taxista Testemunha de Jeová. Senti tesão em diversos momentos, principalmente ao ler o conto “Nas alturas”, cuja escolha certeira do título me inspira a escrever um artigo especificamente sobre ele.
E tive a mesma sensação quando o narrador de “Uma entrevista com Kissinger”, que deixa no leitor – ou nesta leitora – a eterna confusão – que às vezes faço propositadamente – em separar autor de narrador. Nesse conto o narrador também é escritor e também trabalha para um jornal. Ao ser questionado por uma jornalista se seus contos eram verdadeiros ou se, ao desligar o gravador, ele não passava de um trapaceiro, o narrador – autor? – responde, de certa forma, com palavras mais bonitas e uma explicação que não transcreverei aqui, que a jornalista pode desligar o gravador e ele irá confessar que os contos são reais.
E como a vida tem dessas coincidências engraçadas, encontrei muitas semelhanças entre a escrita de Marcelo Birmajer e de José Eduardo Agualusa – que é o meu escritor angolano preferido. Quase no final do livro, já com essa inevitável comparação em mente, detectei sinais de realismo mágico – ou terá sido extrapolação minha? – em “O senhor vietnamita”.
Sendo o acaso ou não, estou feliz de ter encontrado esse livro e o escritor Marcelo Birmajer – que tem muitos outros livros que ainda poderei ler – pois há muito tempo eu não me deliciava de tal forma lendo contos.
É a literatura argentina contemporânea que está viva. Muito viva.